Correio Brasília


 

Entrevista: Mariana Basílio, poeta paulista

Entrevista com a escritora Cristina Judar

                                 por Camila Passatuto

Camila Passatuto escreve sobre a Cultura Paulista

Camila Passatuto nasceu em 1988, na cidade de São Paulo. Escreve desde os 11 anos e começou atuar nos meios digitais, com blogs e participações em revistas digitais, em 2007. Alguns trabalhos e participações: 2010, e-book “Apenas o Necessário”, co-autora da Antologia de micro contos reunidos pela Poesis, em parceria com a ETC Bienal, Fundação Volkswagen e Governo do Estado de São Paulo; 2012, Antologia “Nossa história, nossos autores (Editora Scortecci); 2013, escritora exposta na mostra de Twiteratura no Sesc Santo Amaro.

Camila, escreva uma coluna sobre a cena cultural paulista.

 

Certo, equilibro meu corpo na linha do meio fio, derramo um gole de cerveja quente na garganta. Certo, é só entrevistar um pessoal, contar as paranoias necessárias, mostrar a arte incutida e esculpida.

 

Certo.

Deixo tudo para a última hora, esqueci de perguntar para aquele escritor maluco se uma entrevista seria do agrado, acho que o cara iria curtir se colocássemos em cheque a poética de um drive-through engarrafado.

Poderia também chamar aquela escritora, putz! Uns parenteses supimpas, ela tem ar de móvel novo e cristais esparramados pela sala, arranharia minhas perguntas com a grosseria divina de mulher neon.

 

Volto para a realidade. Não, não dá tempo de fazer nada. Tudo muito na beira de tempo.

 

Desfilo meu corpo exausto pela 23 de maio, os muros gritam acordes de uma Paulicéia Vigiada por guardas carrancudos, que podem espancar qualquer poeta por um erro de concordância emocional. São Paulo é o tipo de cidade que há muita alma no muro e pouco corpo com alma.

 

Certo. Não posso deixar escapar a minha, trouxa alma depressiva, vazia, despenque a vícios.

 

No passo vago, passo por passo, chego ao alento de uma artista de rua.

 

-       O que tem aí? Preciso de uma pauta para um texto. Pode me ajudar?

-       Tenho pulseiras de couro e essas mini esculturas de órgãos genitais femininos.

-       Buceta? Você vende buceta?

-       (Risos) A fonte de tudo. Eu vendo a fonte do mundo.

-       Pode me dar um beijo?

-       Mais tarde passa aqui. Tem uns gringos chegando ali, faturo e depois fumamos um.

-       Certo.

 

Vou embora e não espero. Vou com a certeza que meu charme chulo ainda funciona. Vou com a pauta mais linda embutida a baixo relevo no centro de mim.

 

Eu tenho no meio das pernas a fonte do mundo.

 

Descanso minhas ideias em uma praça qualquer, vejo uns garotos avoando em tábuas, algumas pessoas recitando Ana Cristina César na escadaria lateral.

 

São Paulo não precisa de nada para ser percebida poesia, é uma fonte inesgotável de vida, é meu órgão genital engolindo versos, muros, bares, teatros, saraus, livrarias.

 

Para começo de conversa, é isso.

E está tudo certo.

 

Certo?