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Simone Teodoro

SIMONE TEODORO

 

Autora dos livros de poemas Movimento em falso (Patuá, 2016) e Distraídas astronautas(Patuá, 2014), Simone Teodoro nasceu em Belo Horizonte no início da década de 1980, num 31 de janeiro que, como muita gente deve saber, é o dia Internacional do Mágico. Ainda cedo foi iniciada pela mãe na arte das gambiarras. Passou a infância quase toda consertando coisas, principalmente os frágeis radinhos à pilha que comprava no camelô, com as moedinhas que juntava. Para ela a vida não tinha graça se não houvesse canções. Anos mais tarde fez aulas de artes marciais. Desistiu rápido e decidiu seguir carreira religiosa: foi católica carismática e quase irmã carmelita. Não deu certo. Cresceu. Estudou letras na Universidade Federal de Minas Gerais. Foi professora de literatura. Em 2013 ingressou no mestrado na mesma instituição. Atualmente coordena as atividades de incentivo à leitura da Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de Belo Horizonte. Mantém o blog calidapoesia.blogspot.com.br, onde publica, sem disciplina alguma, seus textos. Poderia ter sido engenheira, lutadora de MMA, freira ou saxofonista. Mas uma vida só não basta. É poeta.

 

 

AS GIRAFAS E O SONHO

foto:Ricardo LafComeçou, na última sexta-feira, 20 de maio, o FIT, Festival Internacional de Teatro, Palco & e Rua de Belo Horizonte. A abertura da temporada aconteceu na Praça da Estação, com o espetáculo francês Les  girafes, operétte animalière (Companie Off, direção de Philippe Freslon).

As girafas gigantescas e vermelhas, de imensos pescoços, iniciaram seu baile ali onde ficam as fontes da Praia da Estação e foram conduzidas pelo canto lírico de Jis, a Diva (que estava suspensa num palco itinerante, como se voasse), até o outro lado da Avenida dos Andradas, em meio a explosões de confetes, fogos de artifício, chuva de purpurina e sons de tambores.

 

A multidão, composta em sua maioria por jovens e adultos, corria alegremente pelos jardins da praça, entre os leões esculpidos, acompanhando de perto cada passo da dança carmesim.

Belo Horizonte estava envolvida numa atmosfera de sonho: noite outonal de lua cheia e, momentos antes, mais de cinqüenta mil pessoas haviam se reunido numa praça nos arredores para cantar a democracia que, como se sabe, está em crise no nosso país. Quem esteve lá viu outro espetáculo, também vermelho: centenas de balões rubros encheram o céu de poesia, beleza e de esperança por tempos mais felizes.

O fato é que a turma dos balões, que protestava, entre outras coisas, contra o afastamento da Presidente Dilma Rousseff (que estava na cidade) e também contra a  extinção do Ministério da Cultura, acabou se juntando aos que corriam atrás das longas girafas dançarinas.

Um milagre bonito acontecia em meio aos prédios: havia os pés firmes na realidade, que a conexão política exige e, ao mesmo tempo havia uma desconexão onírica (mas de forma nenhuma alienante) proporcionada pelos voos da Diva, pelo seu canto e pelos deslocamentos rápidos e mágicos das girafas.

E era preciso olhar para cima.

Quando atravessamos pela primeira vez a Andradas, como crianças enfeitiçadas, o trânsito ficou parado, aguardando.

Não tive dúvidas de que estávamos atravessando, além da avenida, uma fronteira. Estaria havendo alguma estranha e festiva confluência de astros em algum lugar inóspito do universo?

Vários ônibus esperavam antes do sinal, junto a outros veículos. Em um deles, vi a placa luminosa que indicava o nome de um de nossos bairros e um possível destino: CONJUNTO FELICIDADE.

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O Festival Internacional de Teatro, Palco e Rua continua até o dia 29 de maio em diversos espaços de Belo Horizonte.

Confira a programação:

foto:Ricardo Laf

https://fitbh.com.br/2016/programacao/