Correio Brasília

Entrevista  
Mariana Basílio 

Arquivo Pessoal

Por Evan do Carmo

Há um mito tolo que diz que a poesia não é artigo popular, que não é trabalho salutar, e que é sim passa tempo vulgar, que é ofício insalubre, coisa de gente desequilibrada, ou de espírito vagabundo. Pode ser, até certo ponto, uma meia verdade, contudo, a poesia sendo marginalizada, e às vezes perseguida, apesar de tudo isto ainda persiste, existe e existirá, pelo menos enquanto houver mundo, homem na terra ou no céu, enquanto houver amor, e amantes, sofrimento, traição, desespero e solidão. Enquanto houver sol e lua. Dia e noite, mares e rios, flores e crianças a sorrir, mulheres a chorar, enquanto houver sonho e esperança. Enquanto houver água e vinho, suor e sangue, sujeito e verbo, boca e silêncio, haverá um poeta em cada canto deste mundo sem razão, sem objetivo. Talvez seja este o motivo de termos inventado a poesia

 

Entrevista

Carlos Magno 

de Melo

Arquivo Pessoal

O Canto da Crônica

Por Carlos Magno de Melo

 

Natural de Piracanjuba, na Bahia, o poeta Carlos Magno de Melo é médico por formação e escritor por paixão e vocação. Sua carreira literária teve início em Brasília e já aos 13 anos de idade publicou seu primeiro poema no Suplemento Literário da Folha de Piracanjuba - GOIÁS.. É membro da União Brasileira de Escritores, no Distrito Federal, e da Academia Valenciana de Escritores, Letras e Artes de Valença, na Bahia. Em entrevista exclusiva, Carlos Magno de Melo fala sobre vida pessoal, influências, obras literárias e a situação da educação no Brasil. Veja a seguir.

 

 

Crônica - Route 60

Por Carlos Magno de Melo.

carlosmagnodemelo@yahoo.com.br

 

            Na estrada, entre Brasília e Goiânia, fica Abadiânia. Cento e poucos quilômetros. Alí, inaugurou-se o Route 60. Formou-se um "poit". Local de encontros de amantes de motos. Belas motos. São máquinas de grande potência. Beleza inoxidável. Várias. Reluzentes. Roncos possantes. É gostoso ouvir uma moto daquelas roncando. Dezenas. Os motociclistas se encontram ali. Viajam em grupos. São vinte, trinta ou mais. Todos paramentados. Roupas de couro, capacetes, botas, luvas e tudo o que se possa imaginar no sentido de segurança, sofisticação e bom gosto. São os modernos cavaleiros andantes. As donzelas, na garupa. Mulheres igualmente paramentadas. Pessoas alegres. Saudáveis. Uma confraria de mentes livres.

            Todas as vezes em que viajo para Goiânia, na ida, faço uma parada no Route 60. Esticar as pernas. Nem precisa, entretanto, paro. Tomar água, café, suco e comer um empadão goiano (precisa). Mas minhas paradas são motivadas pelas motos. Gosto de observar. Nunca fui, até hoje a Goiânia, buscar remédio. Sempre tenho tempo. Demoro-me por ali.  Vejo. Ouço. Observo. Fotografo. São homens maduros. Livres. Mulheres bonitas. Elegantes. Altivas. Esportistas. Homens e mulheres que sonham. E vivem o sonho. Libertários.

            Eles passam por mim na estrada. Aquelas máquinas intrépidas. Eles e elas, encouraçados. Adesivos. Indumentárias escuras. Armaduras modernas dos modernos cavaleiros. Quase todos de negro. A princípio, não sei se são condores em voos rasantes. Não sei se são búfalos selvagens correndo pelo asfalto. Nem se são formigas valentes desafiando o mundo nos trilheiros. Só sei que eles buscam o espaço. Buscam o caminho de ir e de vir. Buscam um bem inalienável: a liberdade.

            No Route 60, conheci o motociclista Jales. Conheci a motociclista Rosemary. Conversamos. Gente boa. Lembrei-me da minha amiga de Valença. Tininha Rosemberg. Aventureira nas estradas da pátria Bahia em motos robustas e bem desenhadas. Lembrei-me dos olhos dela brilhando quando me falou das viagens nas motos, país baiano afora.

             Despedi dos novos amigos. Segui viagem. Logo o bando me ultrapassou. Todos em suas fantásticas máquinas rompantes. Soltos. O vento. O céu. O limite do horizonte ampliado. Liberdade materializada. Por um instante, eu viajei com eles. Até que chegou uma curva suave e os condores, mais rápidos, ganharam outra dimensão. Fique encantado. Meu coração bateu mais rápido. Meus olhos devem ter brilhado. Eu sei. Eles brilharam.

              Sei que tenho uma forte relação com as motos. Papai, quando eu e minhas irmãs éramos crianças, ia com a Mamãe na garupa e nós enganchados. Os quatro. Bip.. Bip...

           

A INJÚRIA PETISTA – DE CARLOS MAGNO DE MELO – MÉDICO E ESCRITOR

 

A injúria do governo petista contra a classe médica brasileira ou o bode expiatório conforme o modelo fascista e os perigos do desdobramento de tão horrenda postura para o futuro da Democracia e para o povo do Brasil.

 

Desenha-se dentro dos horizontes brasileiros a figura silenciosa do totalitarismo de um governo que se aparelha para a permanência no poder até 2022. Um governo que sem respostas às manifestações democráticas nas ruas, iniciadas em julho, preferiu criar uma cortina de fumaça, falando em convocar uma constituinte. Destroçados, os movimentos pacíficos retornaram ao marasmo, depois da infiltração dos mascarados. O assunto da constituinte caiu no esquecimento governamental por nunca ter sido encarado como algo que devesse, de fato, ser lembrado. Foi como uma piada sem graça em uma mesa de bar.

            Outro ponto que o governo petista mirou, como resposta às manifestações legítimas e populares, foi o ponto sensível da saúde. Não o da saúde em si, ora, uma resposta retórica, uma vez que jamais pensara no assunto nos oito anos lulistas e nem nos dois anos da sra. Dilma. O que fez o governo? Usou a técnica de Hitler, que elegeu os judeus como os responsáveis por todos os males que assolavam a Alemanha. Assim também fez Mao Tsé Tung. Este apontou o dedo para os intelectuais e promoveu devassa entre os opositores do regime. Queimou livros, humilhou escritores, fechou instituições como academias e museus. Também baniu artistas e poetas. Milhares de intelectuais morreram como se fossem responsáveis por toda a miséria que roía a China desde antanho. A juventude foi cooptada pela propaganda. Tanto quanto na Alemanha.

            Aqui, os olhos raivosos do governo petistas miram no médico brasileiro. O médico passou a ser visto como o vilão, o interesseiro, o mercantilista e o milionário que só quer o conforto das grandes metrópoles e das cidades onde se pode comprar em shoppings e passear por alamedas ajardinadas, relegando o miserável rincão das grotas ao abandono. O desgoverno dos oito anos da administração petista sob Lula na saúde não são lembrados. O interior e os limites longínquos das grandes cidades passaram oito, oito, sim, oito anos sem receber melhorias significativas na área sensível da saúde pública. O governo da sra. Dilma só acordou para o melindroso problema quando as vozes roucas das ruas lhe chegaram aos calcanhares. Sem tempo hábil para tentar o que lhe salvasse, criou o bode expiatório. É culpa do médico. Importem médicos pois os nossos são interesseiros. A propaganda se fez intensa. O povo, na maior parte desinformado e desinformado, porque inculto, inculto porque a educação também é uma falácia, acredita que o culpado por não ter algodão, medicamentos, equipamentos, instrumental, hospital, ambulâncias, postos de saúde em número razoável, estradas, energia, sistemas integrados de atendimento seguindo níveis de complexidade, rapidez na ação, eficiência, transparência nas contas do Ministério da Saúde, enfim, todas as mazelas conhecidas e desconhecidas, tudo isso, de acordo com a propaganda fascista governamental é do médico. O judeu do pt é o médico. O intelectual do pt é o médico. O bode é o médico. O povo engole tal ignomínia. E há pessoas educadas, intelectuais inclusive, que acham que essa é a verdade. Não vêm por trás da fumaça da cortina criada pela retórica fascista. O povo é cooptado.

            Há um poema que tem a seguinte mensagem, sem ser literal: Quando vieram e prenderam o homem do fim da rua porque ele era judeu, eu, que não sou judeu, não disse nada. Quando vieram e levaram preso o católico, eu não disse nada, não era católico. Levaram outros e outros, eu nunca disse nada porque não era comigo. Por fim, vieram e me levaram, pois não havia ninguém para protestar. Hoje são os médicos, amanhã, serão os professores, depois, os engenheiros, os sociólogos, os intelectuais e chegará o dia em que ninguém estará a salvo. Não haverá quem proteste. Todos estarão ocupados em vigiar e deletar os vizinhos se os vizinhos não tiverem a carteirinha do partido.