Correio Brasília

Um Dólar por dia. Vergonha coletiva

04/12/2015 14:05

Por Evan do Carmo1 Dollar

Este é um crime do qual todos nós somos culpados perpétuos: 1,2 milhões de pessoas, vítimas da pobreza extrema, vivem com apenas um dólar por dia.

“O Comitê Nobel norueguês atribuiu o prêmio ao pioneiro do microcrédito Muhammad Yunus e ao Banco Grameen, fundado no Bangladesh, que demonstraram que mesmo os mais pobres dos pobres podem trabalhar para criar o seu próprio desenvolvimento”.

Estudiosos do mundo desenvolvido, que também são vítimas do consumismo exacerbado praticado no ocidente, acreditam que a pobreza está intimamente relacionada com a falta de educação. Estes senhores bem nutridos culpam os pobres pelo descontrole social do planeta, chegam ao extremo absurdo de dizerem que as guerras cessariam se todos os seres humanos tivessem o que comer e o que vestir. Pensam que a paz global seria conquistada com alguns pedaços de pães e alguns copos de água potável.

No mundo todo, cada pessoa dentro de um grupo de seis sobrevive com um dólar por dia. O que se pode comprar com um dólar? No Brasil, por exemplo, talvez se compre um litro de gasolina, dependendo da variação do câmbio. Ou quem sabe meio quilo de carne de segunda, ou um litro de leite. Se pararmos para pensar, que gastamos R$ 20 em média para tomar um café expresso e uma garrafa de água mineral em um shopping qualquer de Brasília – nós sentiríamos ricos.

Alimentamos um monstro vorás diariamente com o nosso consumismo. Há um provérbio que diz: “Não usamos dois pares de sapatos ao mesmo tempo”, todavia, gostamos de acumular, saber que em casa há outras dezenas ou centenas de outros pares de sapatos que nos dão uma falsa segurança. Isto ocorre com quase tudo que usamos: camisas, relógios e até computadores e celulares. Guardamos muitas coisas supérfluas, muitos objetos dos quais certamente nunca faremos uso.

Os governos preferem oferecer ajuda ao invés de oferecer oportunidades. “Bolsa pobreza” por aqui tem o famigerado nome de “bolsa família”. A pobreza é fruto ácido que as políticas públicas produzem inversamente. A corrupção e a má gestão travam o crescimento do país. Com isto, as empresas cortam gastos e mão de obra, e o resultado está aí. Estamos vivendo, sobretudo no Brasil, uma crise que logo se transformará em recessão aguda. Com isto, os que antes eram pobres, amparados por bolsas e outros benefícios do estado se tornaram cada dia mais carentes, miseráveis sem esperança, sem futuro e logo não terão sequer um dólar por dia para alimentar seus filhos.

A pobreza extrema, segundo dados internacionais, é “viver” com menos de um dólar por dia e pobreza moderada com menos de dois dólares (1,60 euros), estimando que 1,2 mil milhões de pessoas se encontram no primeiro caso e 2,7 mil milhões no segundo.

Apenas na África, 314 milhões de pessoas vivem com menos de um dólar por dia. Não temos estudos sérios com respeito ao Brasil, porque aqui tudo é maquiado, até as contas do governo, para vender um país que estaria dando certo, que venceu a pobreza e a falta de condições mínimas de sobrevivência e cidadania. Contudo, existe um país que não conhecemos, ou que ignoramos – um Brasil que sustenta a política imoral e corrupta, que ora está sendo exposta ao mundo. Eis a nossa maior vergonha coletiva e a causa da nossa miséria social: A política paternalista que não dá dignidade ao cidadão, ao ser humano.