Correio Brasília

Evan do Carmo

04/12/2015 13:15

Não precisa ser economista para enxergar o óbvio

Está em voga nas rodas sociais, sobretudo no meio político, uma discussão insalubre, entre pessoas que defendem como causa de toda crise econômica do Brasil, a questão fiscal. Todavia, só em 2015, apenas os aplicadores, ou melhor, os especuladores, pessoas que vivem dos rendimentos de suas aplicações financeiras, fatia esta da população brasileira que representa 1 %, irão receber o equivalente à boa parte do orçamento da união, coisa em torno da metade.

Contudo, os outros 99% do povo brasileiro, enquanto isso, nós os reles mortais seremos obrigados a viver com a redução percentual do PIB na casa dos 745,3 bilhões de reais em 2015. Desta forma, devido à crise e à crescente recessão, este o 1%, dos chamados ricos acumulará um gordo ganho financeiro por volta de 500 bilhões de reais, em consequência imoral das grandes altas dos juros.

Já somam em torno de dois anos e meio, a elevação regular da taxa básica de juros, (Selic), com isso o Brasil deve comprometer uma assombrosa quantia, algo por volta de 8 a 9 % do PIB, apenas com a sua estrondosa dívida pública. É fato bem conhecido por cientistas econômicos e jornalistas da área, que em 2015, as despesas financeiras correspondem aí pelos seus 94% de todo o déficit público nominal.

(O déficit público ou défice público, em macroeconomia, ocorre quando o valor das despesas de um governo é maior que as suas receitas. Normalmente o valor do déficit público é expresso em percentagem sobre o PIB do país, permitindo a comparação entre países e a avaliação do excesso de despesa de cada país em relação ao valor da produção.)

Com isto o estado tem desviado boa parte dos recursos federais, oriundos de pagamento de impostos, para pagar suas dívidas, quando na verdade deveria ser usada em políticas públicas, em programas sociais, em grandes investimentos para alavancar o crescimento do país. As altas taxas de juros, neste contexto, impedem as tais boas e desejadas ações de governo. Além, é claro, de elevar drasticamente o custo do setor produtivo, coisa elementar, e não se precisa ser economista para entender este jogo capitalista.

Dizem os estudiosos, evidentemente aqueles que não são da base do governo, que em 2015, a economia do Brasil deverá encolher algo na casa dos 3 a 4% em relação ao ano de 2014, por conta disto anunciam uma inflação de 56% muito mais elevada do que a do ano passado. Nas últimas eleições Aécio Neves e Cia, pregavam que o país estava numa crise gigantesca, além de fortes desajustes em suas contas, em suas finanças.

O Brasil, tardiamente, agora já neste ano, sobre a égide do “novo governo”, passou a aplicar uma nova metodologia econômica, paradoxalmente seguindo os alvitres da oposição, aceitou enfim que estava de fato em má situação econômica, contudo, foi um pouco tarde ou mal administrada a dose de remédio em um paciente já agonizante. Não haverá saída segura, muito menos milagrosa, se não buscar, mesmo com grande prejuízo político a volta do crescimento coordenado.

Lamentavelmente, com esta taxa de juros praticada pelo Banco Central, à revelia de um governo que não possui saber econômico, as nossas atividades produtivas não serão retomadas a médio nem em longo prazo, portanto, não teremos, por assim dizer, condições de parear com as atividades especulativas econômicas financeiras do setor privado. Leia-se banqueiros.

Vamos ficar apenas com a ilusão passageira, com aquela euforia desmedida, quase irresponsável, produzida pela autoestima do Governo Lula, que inegavelmente gozou de grande privilégio ocasional, pegou o burro selado e seguiu viagem confortavelmente, todavia, os tempos são outros, e os fatos não mentem: o Brasil está em severa recessão, e o governo não sabe o que fazer. Cortar gastos de uma empresa já falida não serve de conforto para seus funcionários, que serão fortemente prejudicados e até dispensados dos seus postos de trabalho.