Correio Brasília

Entrevista com o grande poeta Fábio Renato Villela

13/04/2016 22:52

Fábio Renato, quem é você? 

Já se disse que não somos. Apenas estamos... Amigo, nesse tempo em que estou, 59 anos já se passaram; estou divorciado e vivendo outro grande amor; sou pai de um anjo (Thyago) que é Sociólogo formado pela UNICAMP e Mestre em Artes Visuais pela USP/SP; ganho a vida com o que escrevo e aproveito em cada segundo esse conjunto de bênçãos que o mundo me dá.

Como definiria a poesia?

Como eu disse no poema abaixo:

O POEMA

O poema, nunca será apenas

a soma das palavras.

É mais o que se sente

e não se consegue guardar no peito.

 
Quando e como realmente começou escrever poesia ?

Tão logo aprendi a escrever, logo aos três anos de idade. Versos mancos, como eram os meus passos de então.


Qual a importância da poesia no mundo e pra você?

Só nela a verdade ganha forma e conteúdo. Apenas por ela sentimos o gosto de ser humanos. 


Um livro pode mudar a mente de uma pessoa, pode mudar o mundo, ou isto tudo é conversa de letrado?

Pode sim. Mas, o que é letrado? 


Como você ver o meio literário brasileiro, sobretudo para a poesia, acha possível alcançar o público da boa literatura sem uma editora importante? 
 

Felizmente surgiu a WEB e com ela a liberdade para milhões de poetas e escritores publicarem e serem lidos, sem as antigas amarras que nos prendiam aos ditames das Editoras. Nesse quesito, aliás, penso que está a única grandeza desse triste tempo em que perdemos a Música, o Teatro e tantas outras formas de Cultura, que até há cerca de trinta anos fazia-nos referência no mundo.

Como publica e divulga sua obra? 

Através de Editoras, pela WEB e através de Saraus, Palestras e Oficinas.


Fale-me dos seus livros, qual você destacaria como mais importante, se isto é possível para um autor.

Tenho 15 livros publicados e o que me é mais caro é o primeiro, onde narro a minha luta contra o câncer que me amola desde a primeira infância. Escrevi um Dicionário de Filosofia e mais dois livros sobre esse tema, os quais me deram a satisfação de serem referenciais para vários estudantes no Brasil e no Exterior; um Dicionário sobre as Divindades Hindus, que é o mais vendido até então; outro sobre a Bíblia Cristã; o mais recente sobre Óperas e outros com os meus poemas. 

Quais os autores que lhe influenciam para escrita dos seus livros?

Machado de Assis, Graciliano Ramos, Carlos Drumonnd de Andrade, Jorge Luis Borges, Saramago, Flaubert, Zola, Dostoiévski e vários outros. 


Você escreve além de poesia, outro tipo de literatura?

Sim, como disse acima, Filosofia Clássica, Moderna e Contemporânea, Óperas, Hinduísmo, Budismo, Jainismo, Ensaios políticos e filosóficos, crônicas e prosas poéticas. 


Envie três poemas. 

Poesia, rima e vida

A poesia ficou rala
e o amor nada fala.
Restou a rua e a mala;
sou eu e o quarto sem sala.

A rima ficou pobre e rara.
A vida me custa os olhos da cara.
Maldição do bruxo canhalha
e da Morfina que sempre falha.

"Cest la vie . . ."
Perpétuo "Dejá Vú".
A náusea, o horror que já senti.

Mas ainda bebo esperança,
afago a noite criança
e ando nova andança.
 

Menino de Rua
 

Espremi o mundo em busca do sumo,
mas não achei nem o rumo.
Nunca fui na Escola;
meu padrasto, faz-me de esmola.
E a fome me amola até sentir o baque da cola.
Limpo pára-brisas e rezo sem crença.
Sou sujo de nascença e de feia presença.
(No "tecido social" eu sou a doença,
como diz qualquer Dr. Excelência)
Peço ajuda à dona-tia-senhora
(louca para fugir sem demora)
e do seu medo eu lucro um trocado,
que logo gasto na "biqueira" ao lado.
Da boca sem dente, vem a vontade de ser gente.
Da boca banguela vem a vontade de sair da favela.
De ter um "cano" na fivela, arroz na panela
e até o amor da moça donzela
que peregrina em Santiago de Compostela.
Do meu nariz escorre suja coriza,
do macilento rosto despenca raiva e desgosto.
Eu sou o oposto.
Sou menino do Brasil e durmo sob o azul-anil
até que me acorde o cão-pastor do canil.
Levo a vida fugindo de "bala perdida"
e da santa caridosa bandida.
E sempre escuto: mude de vida!
Como se existisse tal saída.
Como se aqui, eu estivesse por escolha
dessa minha vista caolha.
Já lustrei sapatos e calçadas,
tomei todas as burguesas "porradas"
e não quero acreditar que isso ainda vai retornar.
Olham-me como ameaça.
Parido por desgraça de uma barriga cheia de cachaça.
Mas o que eu queria era ser só mais um.
Desses, que não metem medo e a quem se confia um segredo.
Desses, que choram pelo Poeta em degredo
ou das dores do samba-enredo.
É coisa pouca: casa, afeto, comida e roupa.
Poder dispensar a caridosa sopa,
servida pelo moço que quer o troco:
ser um  Santo (do pau oco).
Pois nessa vida nada se dá. Só se troca.
É o medo de acabar numa maloca, vendendo tapioca.
Mas agora, SENHOR, licença. O sinal fechou.
O esperto não vacilou,
mas a moça pequena só me olha com pena.
Por isso irá morrer.
Não sei assoprar. Só morder.
Uso o "estoque" como baliza e o sangue não me horroriza.
Sou bicho-fera: se bobear, "já era".
Mas não se preocupe meu "bom burguês".
Da Policia eu sou freguês e Posseiro em qualquer xadrês.
Logo ficarei sob outra tutela, sem velório, coroa e vela.
Não deixarei saudades e nem levarei amizades.
Irei sozinho na morte, como só, eu fui na vida.
Uma rebarba atrevida, dessa sociedade falida.

 

O Brilho

Foi preciso encontrar-te, Papillon,
para saber que a estrela
que eu julgava perdida,
brilha ao meu lado.



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